sexta-feira, 29 de março de 2024
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Polícia utiliza redes sociais para caçar bandidos no ES

Fotos, videos, ameaças: postagens ajudam a polícia a prender criminosos

A era da informação veloz tem muitos benefícios, inclusive para a Segurança Pública. Nas redes sociais, por exemplo, são comuns os compartilhamentos de vídeos e fotos em que pessoas aparecem portando armas de fogo, ameaçando facções rivais do crime organizado, praticando atos ilícitos ou tendo condutas minimamente suspeitas aos olhos das autoridades. E as forças de segurança dão provas de que estão atentas.

No último dia 30, a Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV) recuperou uma motocicleta com restrições de furto e roubo no bairro Santo Antônio. A pista que levou os agentes até o veículo chegou aos agentes por meio de mensagens de Whatsapp.

Informações também adquiridas em um grupo de WhatsApp indicavam a localização de uma motocicleta com restrição de furto e roubo. Os detalhes foram repassados ao Grupamento Tático Operacional (GTO), da Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV), e agentes se dirigiram à Rua Archimimo Mattos, em Caratoíra, na região da Grande Santo Antônio, e constataram a irregularidade do veículo.

Apesar de ninguém ter sido preso ou detido, a motocicleta foi recuperada. Um boletim de ocorrência também chegou a ser registrado na 1ª Delegacia Regional de Vitória, Documentação importante para desbaratinar possíveis grupos especializados em furtos e roubos na Região Metropolitana da Grande Vitória.

Foto: Divulgação/GCMV

Inteligência

A descoberta da localização da motocicleta foi possível com o trabalho de monitoramento constante do setor de inteligência da GCMV. De olho em várias telas, os responsáveis por essa função acessam câmeras de videomonitoramento do Cerco Inteligente e, claro, as redes sociais em busca de atividades suspeitas.

O comandante da Guarda Civil Municipal de Vitória em operação – Foto: Leonardo Silveira/PMV

“Hoje em dia, a informação circula muito rápido com os mecanismos de redes sociais. A pessoa está na rua, vê algo e posta imediatamente. Com esse monitoramento a gente consegue até prevenir o que pode ocorrer. As pessoas às vezes nem ligam para o 190 ou outros números porque já lhes basta postar nas redes sociais. É instantâneo”, explica o comandante da GCMV, Fabio Rebello Alves.

As informações que chegam são repassadas para a Ronda Ostensiva Municipal (Romu) ou para a própria guarda, que vão até os locais indicados e, em caso de confirmação dos relatos e da ocorrência de algum delito, grave ou de menor potencial ofensivo, efetuam as prisões ou intensificam o patrulhamento na região.

“Criamos o serviço de inteligência em janeiro de 2021. Desde então, equipes ficam o tempo todo monitorando as redes sociais, seja em grupos abertos ou fechados. Eles conseguem entrar nessas comunidades virtuais e obter informações de indivíduos suspeitos, de fatos que aconteceram em relação a crimes patrimoniais (furtos e roubos) e até a confrontos entre gangues rivais”, acrescenta Rebello.

O trabalho de monitoramento passa, entre outras funções, pela infiltração de agentes do setor de inteligência da guarda em vários grupos nessas redes. Eles colhem informações, relatos e imagens de crimes em curso ou já cometidos. Extraído o material, é feito o cruzamento com a base de dados do Cerco Eletrônico da Capital, de reconhecimento facial e de outras ferramentas de uso exclusivo das forças de segurança.

A combinação vem dando resultados. De janeiro a março deste ano, a taxa de homicídios na Capital caiu 36,8% em relação ao mesmo período de 2021. Também houve redução dos crimes patrimoniais. Nos três primeiros meses de 2022, os índices de furto e de roubo tiveram queda de 21% e de 20%, respectivamente, na comparação até março do ano passado.

No encalço

Um caso específico foi usado como exemplo pelo comandante Fabio Rebello Alves: uma série de furtos a residências situadas em um bairro nobre da Capital. As pistas que levaram à captura do ladrão vieram novamente de uma rede social. Tratava-se de um motociclista que se aproveitava da ausência dos moradores durante feriados para invadir as casas e levar tudo que conseguisse. 

Ele passava pela rua, via que não tinha veículo nem ninguém e entrava nas casas para cometer os furtos. Em uma delas, levou duas televisões com valor aproximado de R$ 1.500 cada, um cordão de ouro avaliado em R$ 25 mil, 5 relógios de R$ 1 mil cada um, além de diversos cordões e pingentes em ouro.

“Quando recebemos as informações nas redes sociais, começamos a mapear os dias e horários pelas câmeras até encontrar a moto utilizada. Com isso, recorremos ao Cerco Tecnológico intensificamos o monitoramento dos grupos. A qualquer momento o indivíduo poderia estar naquele bairro”, recorda Rebello.

No dia 29 de abril, novos detalhes fizeram a guarda crer que, enfim, havia chegado o momento da prisão. “As equipes foram até lá e fizeram a abordagem. Ele estava com o mesmo capacete usado nos furtos, a mesma bolsa para guardar os materiais furtados e em uma moto com as mesmas características. Vimos no sistema que ele tinha mandado de prisão em aberto por crimes de roubo, furto, estelionato e tráfico de drogas”.

População

Desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, as redes sociais ganharam mais importância no auxílio ao combate ao crime. A percepção é do próprio comandante Rebello. Quando você tem a população mais dentro de sua residência, ela consegue observar mais o seu território. Com base nessas informações, conseguimos fazer um mapeamento mais preciso e aprimorado”, conta.

Monitoramento de redes sociais, aplicativos de mensagens instantâneas e das câmeras de segurança espalhadas pela cidade são mais efetivos quando a população colabora. Por isso, Rebello apela aos cidadãos para que forneçam informações também diretamente à guarda.

“A gente pede sempre que a população possa nos auxiliar a continuar com essa redução dos índices de criminalidade fazendo denúncias ao 156 da Prefeitura. Quando ela é relacionada à segurança, é repassada para diretamente para a Guarda Municipal”.

Outros casos

Da mesma forma que ocorre em regiões periféricas da Capital, o crime organizado aterroriza moradores de diversos bairros de Vila Velha. Uma guerra entre traficantes do Divino Espírito Santo e Ilha dos Ayres foi declarada após a morte de um homem supostamente ligado ao crime organizado.

Logo na noite do homicídio, diversas fotos e vídeos com juras de vingança feitas por criminosos dos dois bairros endereçadas, inclusive, a moradores dos dois bairros começaram a circular nas redes sociais. Um toque de recolher chegou a ser decretado, e um homem que não quis se identificar relatou como estava o clima na região.

“Sem condições de assistir aula presencial hoje. Ordenaram toque de recolher lá no bairro. Sair de casa hoje é rabuda, tô fora”, afirmou à época o morador.

Em um dos vídeo, dois traficantes aparecem fortemente armados dentro de um carro fazendo ameaças e indo à caça de rivais por ruas do Divino Espírito Santo. As imagens mostram armas de grosso calibre, como um fuzil e uma pistola. Além disso, as ameaças são feitas a rivais numa briga de gangues pelo controle de pontos de venda de drogas na região.

Um print de uma postagem em rede social também destaca o medo que está sendo implementado no bairro.

“Pode tirar print e mostrar pra DHPP, eu mesmo que estou falando, vou matar inocente aí dentro de Ilha dos Ayres, até cachorro vai morrer qualquer um, fod@#%”, dizia a mensagem intensamente compartilhada e que impôs o medo nos bairros.

Em Cariacica, traficantes do bairro Nova Rosa da Penha gravaram vídeo para ameaçar rivais do crime organizado de Santa Rosa. Armados, cobravam a presença de integrantes do tráfico do bairro adversário e afirmam que são aliados da facção que comanda o Morro do Quiabo, também no município.

O vídeo foi enviado por um leitor do Portal MovNews. Um indivíduo que se apresentava como “PK” citava supostos adversários como Zé Maria, Paulinho Portugal e Luquinhas. Ele confessou o desejo por visibilidade ao dizer que é para divulgar o material em grupos do município nas redes sociais, logo após anunciar: “se ‘nós pegar, nós vai’ deixar f…”.

“E aí, Zé Maria, não mandou ‘nós’ brotar? Brotamos, pô! ‘Tamo’ aí, cadê você? Cadê o Paulinho Portugal? Aí, é o ‘PK’, pô. É os ‘cria’, é o ‘Gordinho da Tornado’, ‘Riquelmezin’. É a tropa do avanço. ‘Luquinha’, bota a cara, pô. ‘Nós vai’ buscar vocês dentro de casa”.

 

 

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