Incerteza, angústia e revolta são os sentimentos que cercam os estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) entrevistados na manhã desta quarta-feira (30), no Campus de Goiabeiras, em Vitória, após o anúncio do bloqueio de R$ 4,9 milhões feito pelo Governo Federal.
Para muitos, o sentimento é de insegurança: “É o medo por saber que a minha área e a minha universidade são desvalorizadas. Já faz anos que alguns cursos não recebem verbas”, comentou uma aluna do Centro de Artes sobre o bloqueio orçamentário.
No site oficial da Ufes, a comunicação da Universidade respondeu com uma nota, ressaltando que o congelamento retira a capacidade de pagar inúmeras despesas, como manutenção e contratos.
O reitor Paulo Vargas se manifestou por meio do comunicado e, segundo ele, vão tirar toda a capacidade de realizar empenho para a compra de itens básicos.
“Tudo o que estava programado para fechar o ano, está comprometido. Precisamos aguardar o que ainda pode acontecer”, finalizou.
Copa do Mundo
Em outubro, outro congelamento teria sido feito mas, devido à repercussão negativa durante o período eleitoral, houve um recuou da decisão. Para alguns alunos pode ter sido até mesmo proposital a escolha da data para o anúncio dos cortes: em pleno jogo da Seleção Brasileira pela Copa do Mundo.
“Foi um golpe sujo! Eles acharam que passaria despercebido. Agora que Bolsonaro perdeu, eles querem acabar com o país para culpar o futuro presidente. O que a gente tira disso é que temos poder, o estudante é revolução, é a voz, é o futuro”, diz Amabile Rudeck, aluna do curso de Música da Ufes.
“Sucateamento”
Considerada uma das melhores universidades do Brasil, a Ufes é referência em pesquisa, ensino e extensão. Única federal no Estado do Espírito Santo, a Ufes também é a gestora financeira das unidades de Alegre e São Mateus.
“A gente, que está dentro da Ufes vê a realidade, vemos o quanto a universidade é desvalorizada. Quantas melhorias poderíamos ter estruturalmente e como isso vai ficando cada vez mais inviável. É preocupante ver o caminho de sucateamento que a universidade está traçando e a gente sabe qual a intenção nisso”, comenta a estudante.
O campus localizado em Goiabeiras, Vitória, é um dos principais centros, onde se concentra a maior parte dos cursos de graduação, pós-graduação e mestrado. Localiza-se também os centros de ensino, laboratórios e projetos, além da reitoria, pró-reitorias e secretarias. Segundo os alunos, a Ufes possui estruturas incríveis, mas muitos pontos precários.
“Existem coisas básicas que devem melhorar, como ventilação nas salas, as privadas quebradas, a falta de papel higiênico no banheiro, bebedouro quebrado. Muito além disso, nosso RU é um dos mais caros. Tudo poderia ser melhorado, mas com esses congelamentos, uma instituição tão importante como a Ufes fica em situações precárias”, explica Amabile.
Chuvas
Nos últimos dias, o Estado tem passado por um longo período de chuva – o que também prejudica a circulação dos estudantes no campus. Nesta terça-feira (29), o pátio localizado em frente ao Restaurante Universitário estava coberto com água da chuva, uma das recorrentes reclamações. Os orçamentos destinados a manutenção também foram bloqueados, o que torna instável a ocupação da universidade.
“As vezes a gente chega na sala e ela está alagada, os bancos que a gente senta na frente do RU ficaram submersos depois da última chuva. Existe ainda muita sala de aula que não pode ser usada por causa da infiltração”, conclui a estudante.
Instituto Federal do Espírito Santo
O Instituto Federal do Espírito Santo também teve orçamento bloqueado. Em nota, a instituição destacou que a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica está prestes a sofrer um novo revés em seu já restrito orçamento.
O governo federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), retirou todos os limites de empenho distribuídos e não utilizados pelas instituições, enquanto define um valor efetivo para o bloqueio orçamentário.
Eleições
Em outubro, quando o governo bloqueou os chamados limites de empenho, havia o argumento de que tudo seria liberado em dezembro. O ministro da Educação, Victor Veiga, chegou a negar que houvesse corte e acusou reitores de fazer politicagem às vésperas das eleições.
O tema ganhou repercussão durante o período eleitoral. Dias depois, o próprio ministro anunciou o desbloqueio daquilo que, segundo ele, nem havia sido bloqueado.
As instituições já vivem sob uma realidade de enxugamento de recursos neste ano. Em junho, perderam R$ 438 milhões, e os institutos, R$ 186 milhões.
Com supervisão de Alexandre Damazio.