Muito bem-vinda, mas insuficiente. Esta é a definição dada por motoristas para a redução de 10% na alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o preço de combustíveis no Espírito Santo. Anunciada nesta terça-feira (29) pelo governo do Estado, a tributação da gasolina e do etanol baixará de 27% para 17% a partir de sexta (1°), resultando em um barateamento de até R$ 0,35 no preço do litro. Descrentes, resta aos consumidores torcer.
A reportagem do Portal MovNews fez um giro por postos de combustíveis localizados em Vitória e entrevistou alguns motoristas para saber o que eles esperam ver nas bombas na virada do mês, já com a nova alíquota vigente.
O consenso é de que toda redução de imposto e, consequentemente, dos combustíveis é boa, mas isso não significa plena satisfação, principalmente se os esperados R$ 0,35 a menos no preço do litro não forem repassados integralmente para o cliente final.
“Espero piamente que sim (chegue nas bombas), porque daqui a pouco o brasileiro não tem mais condição de andar de carro, de fazer nada. Aquela história de ‘Ah, você tem carro, tem condição de pagar gasolina’. Não é isso. Você precisa ter folga para as coisas, porque os salários não são reajustados na mesma medida”, argumenta a advogada Lorena Netto, de 31 anos.
Para ela, “é sacanagem” fato de o Brasil ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo e ter o litro da gasolina sendo comercializado por mais de R$ 7, algo que torna insuficiente a redução esperada. “Espero que um dia volte para pelo menos R$ 4,00.”
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o Brasil terminou o ano de 2021 produzindo, em média, aproximadamente 3 milhões de barris por dia. O resultado deixou o país em sétimo lugar no ranking mundial dos maiores produtores de petróleo, atrás, respectivamente, de Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Canadá, China e Iraque.
“Diante da atual circunstância do país, a gente espera realmente que haja uma redução efetiva, não uma promessa fantasmagórica. Até porque os últimos quatro anos foram só ladeira abaixo. Não havia expectativa de melhora, mas que, pelo menos, fosse por um caminho que desse condições ao brasileiro. O problema não é só o preço da gasolina. É apenas a ponta do iceberg”, assegura Lorena.
Para o empresário paulista Felipe Dias, de 28 anos, que está de passagem por vitória a trabalho, a redução do ICMS da gasolina e do etanol “é uma medida de boa vontade”. Ele explica que, assim como no Espírito Santo, o governo de São Paulo também anunciou dedução do imposto, de 28% para 17%.
“É uma notícia boa, desde que pelo menos 70% da redução seja repassada para a bomba. Se não me engano, vai chegar a impactar no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação sobre diversos produtos de consumo) em 1,64%. A redução vai chegar, mas não 100%. Entendo que o governo vai morder uns 30% da redução. A expectativa em São Paulo é de que as bombas tenham uma redução de R$ 0,50”.
O empresário destaca que, dado o cenário atual, a diminuição ameniza o “caos”, mas não sabe se os governos conseguirão controlar a situação. “Em ano de eleição, pelo menos é positivo, porque a tendência é de que a gente já vai saber quem estará no governo no ano que vem”, frisa Dias.
A arquiteta Mara Boone, de 46 anos, costuma abastecer no mesmo posto. E nesta quarta-feira (29) acabou por ser surpreendida com uma promoção: gasolina aditivada por R$ 7,08/L, mesmo valor cobrado na gasolina comum. Aproveitou para encher o tanque, com a esperança de que, a partir de sexta, as coisas melhorem um pouco depois de tantas altas.
“Há meses a gente só vê subir, só ouve falar em aumento, aumento, aumento. Qualquer notícia relacionada à redução é muito bem-vinda. Vamos ser otimistas, esperar que essa redução chegue nas bombas. Seria bom que houvesse alguma fiscalização por parte do governo, para garantir que isso seja repassado para o consumidor”, cobra Mara, saudosa dos tempos em que desembolsava menos dinheiro para abastecer o carro.
“Não é suficiente. A gente lembra que até muito pouco tempo atrás a gasolina custava R$ 4, mas, acima de R$ 7, é claro que seria muito bom se pudesse reduzir um pouco mais. É melhor do que nada”, pontua resignada.
Preços
Dois postos de combustíveis localizados no bairro Santa Lúcia, na Capital, apresentavam preços bem distintos na manhã desta quarta-feira. No primeiro, o litro da gasolina (comum e aditivada) era vendido a R$ 7,35 e o do etanol a R$ 5,35. Já o segundo cobrava R$ 7,08 por litro de gasolina (comum e aditivada) e R$ 5,69 no litro de etanol.
Caso a redução anunciada no ICMS chegue integralmente nas bombas e se confirme a projeção de que esses combustíveis passem a ser vendidos por até R$ 0,35 a menos, os motoristas poderão encontrar a gasolina e o etanol sendo comercializados, em alguns casos, por cerca de R$ 7 ou até menos.
No entanto, para isso acontecer, há de se esperar ainda que o dólar não sofra novo aumento e nem os custos de transporte e outras despesas de distribuidoras e postos sofram reajustes.
Erick Alencar
Equipe de jornalismo do MovNews