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“Não terminou como a gente queria”, diz tenente-coronel dos Bombeiros

O corpo da adolescente Sabrina Morassuti, de 15 anos, foi retirado por volta das 21 horas desta quinta-feira (22) dos escombros do prédio que desabou no bairro Cristóvão Colombo, em Vila Velha.

Após 10 horas conversando com a equipe de resgate, o silêncio. “Para nós tem aquele sentimento de que não terminou como a gente queria”, lamentou o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) Wagner Borges.

“A gente não mede esforços, sempre na tentativa de alcançar o sucesso de um resgate com vida. Esse foi o ponto que a gente entende que, mesmo a missão da parte técnica tendo sido um sucesso, para nós tem aquele sentimento de que não terminou como a gente queria”, afirmou o tenente coronel, visivelmente emocionado.

Sabrina foi a terceira pessoa morta no desastre. Além dela, a mãe, Camilla Morassuti Cardoso, de 34 anos, e, depois, o avô materno, Eduardo Cardoso, de 68 anos, último a ter o corpo resgatado pelos bombeiros, já na madrugada desta sexta-feira (22).

Tia da jovem e irmã de Camila, Larissa Morassuti, de 47 anos, foi a única resgatada com vida. Ela foi levada para o Hospital Estadual de Urgência Emergência (HEUE), antigo São Lucas, em Vitória. Até o momento não há informações sobre seu estado.

“Nos entristece muito, principalmente a jovem, porque estávamos verbalizando com ela por mais de 10 horas. Nós acreditávamos 100% na retirada dela com vida. Isso foi uma frustração no momento da ocorrência, das nossas ações. Naquele momento o moral da nossa tropa abaixou, foi lá embaixo. Veio aquele sentimento ruim de não termos conseguido atingir a missão”, prosseguiu Borges.

Segundo o tenente-coronel, Sabrina e Camila foram as responsáveis por descartar a ideia de que haveria uma quinta vítima no local, apesar de vizinhos afirmarem que uma outra mulher estaria sob o concreto.

“Tanto a mãe quanto a filha conseguiram falar pra gente que não tinha essa amiga. Mas, mesmo assim, os populares afirmaram que tinha. Quando terminamos de resgatar o último homem, nós fizemos uma nova varredura com os cães e eles não identificaram nenhum ponto que poderia ter uma nova vítima. Ai nós demos por encerradas as buscas”.

20 horas

Foram cerca de 20 horas de trabalho das equipes de resgate, operação essa que teve início ainda por volta das 7h30 de quinta, logo após o desabamento da estrutura, um prédio de três andares. Já com madrugada avançada, às 3 horas, findaram-se as buscas.

“Tivemos que respirar e voltar porque havia mais um senhor. E havia ainda, de certa forma, a esperança de encontrarmos ele com vida. Nós do Corpo de Bombeiros sempre acreditamos na possibilidade de vida. Porque vidas importam para a gente. Quanto custa uma vida humana? Não tem valor que mensure de tão valorosa que é”, disse.

Tenente-coronel Wagner Borges só deixou o local dos trabalhos na manhã desta sexta, após mais de 24 horas desde o desabamento – Foto: Erick Alencar

Apesar de toda tristeza, o tenente-coronel ressaltou o empenho dos 48 bombeiros envolvidos na operação, garantindo que não importa o desafio, todos estarão a postos.

A certeza de que podemos contar com as nossas equipes. Homens de folga vieram para cá. Outros que estavam com viagem marcada vieram para cá. Saber que a nossa equipe do Corpo de Bombeiros Militar valoriza a vida. Isso é uma grande satisfação. A maior satisfação nossa é saber o quanto a nossa equipe se preocupa com a vida humana”.

Há quase seis anos, Wagner Borges atuou nos trabalhos de resgate de vítimas do desabamento do Grand Parc, na Enseada do Suá, em Vitória. Na ocasião, o porteiro do condomínio, Dejair das Neves, de 47 anos, foi o único óbito registrado. O tenente-coronel destacou que, apesar de ter menos concreto e laje para revirar, a operação dos bombeiros no desabamento desta quinta foi mais complexa.

O Grand Parc foi uma situação muito intensa, com muito concreto, laje, dificuldade, mas essa, em específico, fica marcada porque tinham vítimas com vida e verbalizando conosco. É uma situação muito complexa. Envolve o emocional e vários outros aspectos no resgate que acabam trazendo um desconforto muito grande quando não é alcançado o objetivo de salvamento. A gente sabe que usou todas as técnicas, as mais aprimoradas possíveis, todas as ferramentas, das mais modernas possíveis para esse tipo de fato, mas, infelizmente, não conseguimos atingir o objetivo que era salvá-las com vida”.

 

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