sexta-feira, 29 de março de 2024
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Machismo x Tecnologia

Pode soar estranho inicialmente, mas, se nos aprofundarmos no assunto iremos constatar que, historicamente tal assertiva tem fundamento, e podemos entender porque se bate nessa tecla afirmando que o machismo afasta as mulheres da tecnologia.

Poderíamos começar nos perguntando por que, apesar de tantas mulheres conectadas e que usam as tecnologia diuturnamente, sendo profissionais do mercado digital, digital influencers  e tantas outras profissões onde elas tenham que estar completamente ligadas em tempo record, nos deparamos com profissionais que não têm conhecimento suficiente para solucionar eventuais problemas com seus respectivos equipamentos e probleminhas muitas vezes até bem simples, relacionados aos mesmos? 

Falamos em história, então vamos voltar no tempo. Desde a mais tenra idade nossos brinquedos nos direcionam para atividades “permitidas” para os diferentes gêneros de forma que, sofremos estímulos para um ou outro segmento de acordo com esses gêneros. Ou seja, enquanto as meninas brincam de casinha, mamãe e filhos com as bonecas, e outras atividades mais voltadas para o tradicional do gênero feminino, os meninos são direcionados e recebem estímulos para admirar super heróis e suas façanhas para salvar o mundo, além dos brinquedos mais voltados para a tecnologia como os videogames e seus segmentos.

Logo, enquanto os meninos vão interagindo desde cedo com os jogos e seus vídeo games, as meninas passam a interagir com a tecnologia propriamente dita, mais por uma eventual necessidade ou por influência de familiares ou pessoas muito próximas, sendo essas sempre do sexo masculino. Assim, essas mulheres foram se familiarizando com a tecnologia e descobrindo o mercado.

E essa divisão da brincadeira que ocorre na infância, simplesmente se traduz em desigualdade na vida adulta, na escolha dos cursos universitários e, posteriormente, no ingresso ao mercado de trabalho.

Se nós queremos uma mudança, é preciso repensar em como estamos criando nossas crianças, o que de fato estamos transmitindo, nas brincadeiras que estimulamos, para que possamos criar oportunidades de dialogar sobre gênero, estimular a igualdade e, em um futuro próximo, encorajar meninas, estimulá-las a brincar de coisas nunca antes imaginadas para elas, apresentar desde cedo a sua importância no mundo, mostrar e fazer entender que não há limites, que o mercado de trabalho é avesso a gêneros, não escolhe seus representantes.

Quantas mulheres você conhece que sabem programar? Com tantas ávidas usuárias de tecnologia, que passam horas de suas vidas imersas em celulares e computadores, por que será que, ainda hoje, não existe um verdadeiro exército de participantes nessa produção? 

Se nas brincadeiras de criança as mulheres são mais estimuladas a se interessar por cuidados pessoais e da casa, a universidade deveria ser o espaço democrático em que, por meio da educação, elas poderiam se inserir de vez no universo da tecnologia. No entanto, as dificuldades da profissão começam justamente na sala de aula. Além da falta de representatividade, há obstáculos para se inserir em um espaço majoritariamente masculino. Absurdamente, a competência das mulheres nesse setor é colocada em xeque com frequência, além do mercado ser permeado por relatos de assédio sexual. Por mais absurdo que possa parecer, algumas mulheres chegam a tentar “apagar” seu gênero em busca de aceitação, usando roupas mais “neutras” e evitando maquiagem, por exemplo, para “fazer parte” desse contexto. 

A discriminação ocorre de várias formas e está cercada de escolhas muito sutis. As mulheres são mais rapidamente retiradas de vagas técnicas, quando queriam continuar como programadoras, mas são realocadas em setores de atendimento ou gestão.  São designadas para funções de gestão porque espera-se que elas tenham habilidades de resolução de conflitos quase que naturalmente, sem que precisem de um preparo para isso. É um ciclo de divisão de trabalho perverso. Em contrapartida, os homens, quando precisam gerenciar pessoas, fazem um MBA. 

Na verdade, as empresas deveriam atentar para o fato de que é mais lógico empoderar pessoas, ressaltar suas habilidades e competências, utilizar de talentos naturais e mostrar que todos podem entrar na tecnologia, independente de sexo. 

Se faz necessário pensar metodologias que aproximem as pessoas, sem muita linguagem estritamente técnica, a fim de democratizar a tecnologia, mostrar que ela já faz parte da vida das pessoas. Afinal, tecnologia é poder!

É importante furar a bolha de ambientes repletos de homens, e inserir essa oportunidade na vida profissional e rotina das mulheres, em especial, aquelas que tentam programar. Há um alento: já convivemos com muitos avanços de mulheres nesse segmento. Da mesma forma como o mundo jamais voltará atrás, a ser analógico, as mulheres também não vão andar para trás!

Se os desafios são muitos, o sucesso também vem evoluindo de forma positiva. 

Profissionais de segmentos diversos, demonstram interesse em aprender a programar, porém sentem falta de apoio e encorajamento. 

Hoje, existem robustos projetos que tem o objetivo de estimular mulheres a explorar os campos da tecnologia, programação e empreendedorismo, debater a falta de mulheres nesse mercado e promover ferramentas para o aprendizado da programação.

Apesar de tantas iniciativas positivas para empoderar mulheres e prepará-las para o mercado de tecnologia, a socióloga Bárbara Castro alerta para o perigo de um retrocesso. Além de desafios que elas enfrentam em todos os setores, como a dificuldade de permanecer no trabalho após ter filhos, a flexibilização das leis trabalhistas poderá se traduzir em exclusão. 

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