sexta-feira, 29 de março de 2024
23.3 C
Vitória

Incompleto fracasso

Vem aí dias piores
O tempo adiado até nova ordem
surge no horizonte.


Ingeborg Bachman

Se o universo foi criado em um só instante, pela explosão do Bing Bang ou extraído do caos por iniciativa divina, e se neste instante inaugural, estariam contidos todos os acontecimentos se desdobrando, ponto a ponto, nos tempos futuros, e se os eventos cósmicos ou humanos seriam resultados imprevistos dos choques dos movimentos universais com o acaso, fazendo um universo incompleto em expansão, torna-se ainda questão atual.

Na série Fundação, recém-lançada, um personagem, professor, matemático, e segundo ele, estudioso da psico história, se propõem antecipar o futuro da galáxia e da vida de bilhões de pessoas, prevendo o fim do Império e a sua renovação, em um curso de milênios.

Quando o planeta Terra e os seus moradores são ameaçados por pandemias globais e mudanças climáticas, que colocam em risco as suas continuidades, profetas, religiosos ou científicos, são chamados a prever o futuro, e se possível, sugerir como evitar maiores catástrofes.

Naqueles ainda fiéis ao desenvolvimento ilimitado, as ciências irão produzir os conhecimentos para continuar a escalada de progresso, da exploração dos recursos naturais e humanos e reduzir os impactos ambientais e sociais. Outros, cautelosos ou prudentes, anunciam propostas para impedir estes riscos globais, crentes na capacidade civilizatória, política e social da humanidade, para reverter a decadência planetária. Para os mais pessimistas, ou realistas, não há mais tempo disponível para e como reverter o processo inevitável do fim do mundo, do extermínio da vida humana no planeta Terra.

Ao homem comum, resta ouvir estas narrativas, desconfiados de todas as alternativas, apostando em um mundo celestial post mortem ou aceitando cinicamente o fato que todos estaremos mortos nestes possíveis futuros.

O que parecia um debate científico acadêmico, incompreensível, manipulando dados e equações complexas, movimenta o interesse das vidas ordinárias, diante das notícias crescentes de indícios crescentes de alterações climáticas e novas pandêmias, que aceleraram profecias assustadoras.

Jovens, principalmente, tornam-se angustiados, diante das poucas expectativas para a suas vidas e carreiras, em uma crise global, que dificulta o acesso ao trabalho e anuncia os impactos socioambientais que sofrerão nas próximas décadas. Pensar e planejar a médio prazo, construir planos de vida profissional e familiar, ter ou não ter filhos, ou estabelecer uma identidade pessoal, autônoma, torna-se inútil.

Em tempos difíceis, tempos de dúvidas, retornamos os sonhos primitivos, de viagens de descoberta, nômades em um mundo condenado, vivendo provisórias relações afetivas e sociais. Em tempos duros, de futuros instáveis, não cabe lançar sementes ou enviar mensagens éticas, sobram os acres gostos dos prazeres que se desfazem na boca, nos corpos, desmanchando-se no gozo imediato.

Voltemos ao princípio. O futuro esta’ previamente determinado, escrito nas estrelas ou ainda teremos as chances e as oportunidades de reverter este tempo adiado?

Segundo Jamil Chade, “Nosso único presente é a reinvenção do futuro. Retornar ao passado é suicida. Num planeta mais quente, mais improvável, mais hostil e mais desigual, desimaginar o que será da sociedade e da coexistência não é uma opção. Mas um ato de sobrevivência”.

Não olha para trás…

Vem aí dias piores”, conclui a poeta.

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