Petrobras: Ação x Mercado

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No mercado de ações, a última semana do mês de fevereiro foi marcada pela volatilidade nos papéis da Petrobras. Agindo de maneira oposta, dois fatores contribuíram para isso. Um desses – a declaração do presidente da República de que iria destituir o então presidente da empresa por majorar com frequência o preço dos combustíveis – provocou vertiginosa queda na cotação dos papéis da empresa. O segundo fator – o expressivo resultado referente ao 4º trimestre de 2020 bem como o consolidado do ano – favoreceu a sustentação do valor das ações da empresa.

De 2014 a 2018 a Petrobras apresentou prejuízos em seus Balanços. Em 2015 apresentou uma perda recorde de R$ 35 bilhões. Porém, desde 2018 vem apresentando saldos positivos, tendo fechado o ano de 2019 com lucro da ordem de R$ 40 bilhões.

Quando o presidente Bolsonaro declarou a sua intenção de substituir o CEO presidente Castelo Branco, as ações da empresa desabaram 21%. Com receio de mais intervenções, a declaração também derrubou a cotação em Bolsa de Valores de outras empresas sob o controle do governo como Banco do Brasil, Eletrobrás e BR Distribuidora. Os papéis do BB tiveram queda de 11,65% e acabou derrubando ações de Bancos privados como Itaú (4%), Bradesco (5,7%) e Santander (4%).

Ocorre que perdas reveladas em percentuais costumam “esconder” expressivos valores de mercado (preço da ação X número de ações emitidas). No Caso do BB a empresa perdeu R$ 10 bilhões e passou a valer R$ 82 bilhões. Com a Petrobras a perda foi bem mais expressiva: R$ 102 bilhões.

Aprofundando na gestão do presidente Castelo Branco, verificamos que na busca por corte de gastos e enxugamento, foram demitidos 6.000 empregados entre 2019 e 2020. Para este ano estão previstos mais 5.000 desligamentos. Os custos de viagens foram reduzidos em R$ 40 milhões. A empresa que contava com 23 escritórios no Brasil e exterior, agora passou a ter 14. Ela vendeu subsidiárias e reforçou o caixa em US$ 17,6 bilhões. Por estas e outras medidas o mercado deu o devido credito à atual gestão no seu esforço de enxugamento de custos e na busca desenfreada por menor endividamento.

A empresa apresentava até o 3º trimestre de 2020 perda de R$ 52 bilhões. Surpreende que no 4º trimestre do mesmo tenha apresentado lucro de R$ 59,9 bilhões não previsto por qualquer analista do mercado. É certo que a reavaliação de ativo representou R$ 31 bilhões a mais no balanço e a variação cambial outros R$ 20 bilhões, procedimentos estes que são legítimos e não artificiais pois são práticas contábeis consagradas e utilizadas de maneira geral. Desta forma, a empresa fechou o ano de 2020 com lucro de R$ 7 bilhões que embora 82% menor do que os R$ 40 bi de 2019, surpreendeu igualmente a todos. O 4º trimestre de 2020 foi o maior lucro trimestral da empresa com 635% de crescimento em relação a 2019 quando apresentou perda de R$ 1,0 bilhão.

A dívida liquida da empresa que já foi da ordem de R$ 500 bilhões, está hoje em torno de R$ 63 bilhões. A dívida bruta ainda está alta, porém o fluxo de caixa operacional da empresa (com o barril a US$ 42 preço médio em 2020) tem diminuído a cada exercício

Fato é que o stress causado pelas declarações ações do presidente provocou um clima de “revoada“ no ninho dos investidores estrangeiros na Bolsa de Valores brasileira. Este alvoroço fez com que somente em três pregões os investidores sacassem naquela semana R$ 9,2 bilhões. O saldo líquido no mês de fevereiro foi negativo em R$ 4,6 bilhões, porém no ano de 2021 ainda está positivo em R$ 19 bilhões. Quem preencheu o espaço deixado pelos investidores estrangeiros foram os Investidores Institucionais com R$ 3,4 bilhões e as Pessoas Físicas que entraram com R$ 6,5 bilhões.

O mercado espera pelas primeiras medidas que serão tomadas pelo general designado para o comando da empresa. A expectativa é grande. Se pergunta qual estratégia adotaria o novo presidente na hipótese da subida do preço do barril do petróleo no mercado internacional? Reajustará os preços para não causar prejuízo aos acionistas? Ou não reajustará os preços? Vamos esperar para ver.

José Marcio
José Marcio

Economista formado pela Ufes, é atualmente Consultor da Diretoria no Banco do Estado do Espirito Santo (S/A.Banestes)

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