O aumento de 0,75% ocorrido na taxa de juros Selic na última reunião do Copom elevou a taxa de juros para 2,75%. Um novo aumento de 0,75% já está contratado e foi anunciado para ocorrer na próxima reunião marcada para os dias 4 e 5 de maio.
Qual é a consequência pratica destas medidas? Tomada para controlar a inflação, estas medidas não trazem benefícios, exceto para aqueles que dispõem de recursos em abundância para aplicar/investir.
Perdem as pessoas físicas que veem as taxas dos cheques especiais e o parcelamento das faturas de cartão de credito ficarem mais altas; perdem as empresas porque não contam com custo de alavancagem competitivo e tem os seus custos financeiros majorados e perde também o Governo que terá que pagar juros maiores em seus financiamentos através dos Títulos públicos. O chamado custo de financiamento da dívida pública se elevará.
Os aumentos nas taxas chegam no exato momento em que as empresas terão que iniciar o pagamento das primeiras parcelas contraídas de seus empréstimos emergenciais. Chegou para elas o fim do chamado período de carência, justamente quando os juros voltam a subir. Os governos e os bancos têm cooperado oferecendo empréstimos com juros mais condizentes. Entretanto, infelizmente, as taxas de juros continuarão subindo para controlar a inflação.
Para termos ideia do dano que a pandemia trouxe para as micro e pequenas empresas, em 2020 cerca de 75 mil empresas fecharam suas portas, e para o ano de 2021 as estimativas não são alentadoras. Estima-se o fechamento de outras 90 a 120 mil empresas.
Conforme dados do Bacen desde o início da pandemia cerca de R$ 2 trilhões foram disponibilizados para as empresas de maneira geral. Só de Pronanp foram R$ 37 bilhões para pequenas e microempresas.
Outro evento esperado em função desta elevação nos juros, será a inadimplência. Ela será agravada pelo encerramento dos benefícios concedidos às empresas e também pela queda de confiança no governo pelos diversos agentes e setores da economia. Os empresários da indústria já demonstraram isso, e a última pesquisa mostrou uma queda da ordem de 4%.
O que está por trás da expressiva alta de 0,75% no momento em que o mercado acreditava em 0,5%?
Resposta: a inflação prevista para o mês de março!
Trabalhando com dados muito recentes o Copom verificou que a inflação continuará com uma tendência de alta: entre 1% e 1,13% para março, cerca de 0,46% para abril, podendo resultar em 5% ou mais ao final de 2021. Esta alta vertiginosa e inesperada veio como consequência da elevação no preço das principais commodities que o país importa.
Cabe a indagação: além de favorecer aos aplicadores de recursos, será que nossa economia será beneficiada pela alta da taxa Selic?
Muito possivelmente sim, pois com a alta nos juros o país voltará a atrair para o nosso mercado financeiro e de capitais, recursos disponíveis nas economias desenvolvidas.
O Brasil poderá se beneficiar principalmente porque os Estados Unidos, que são os principais detentores de recursos excedentes, estão praticando uma política monetária Dovish. Na semana passada em reunião do Federal Open Market Committee (FOMC), os juros foram mantidos entre zero e 2,5%, enquanto no Brasil nós aumentamos em 0,75% (decisão considerada hawkish). Assim temos uma grande possibilidade de atrairmos um bom volume de recursos de investidores estrangeiros. Esta seria a notícia positiva do aumento dos juros no Brasil.
José Marcio
Economista formado pela Ufes, é atualmente Consultor da Diretoria no Banco do Estado do Espirito Santo (S/A.Banestes)